Nos últimos tempos, o mundo cultural e publicitário tem sido abalado por uma crescente onda de conservadorismo, muitas vezes chamada de "anti-woke", que ameaça reverter os avanços em diversidade conquistados na última década. Um dos casos emblemáticos desta mudança foi a campanha publicitária da American Eagle com a atriz Sydney Sweeney. A campanha gerou polêmica ao ser acusada de misoginia e eugenismo, mas curiosamente, também impulsionou as vendas da marca. A atriz, que se revelou republicana, foi aplaudida por figuras como Donald Trump, que declarou nas redes sociais que "a maré mudou radicalmente". Este episódio é um reflexo de um movimento mais amplo que está acontecendo não apenas nos Estados Unidos, mas também em outras partes do mundo. A expressão "woke", que originalmente denotava uma consciência social e política, se popularizou com movimentos como o Black Lives Matter, mas agora enfrenta uma reviravolta em meio a uma "guerra cultural".
Nos EUA, os últimos anos foram marcados por um movimento em prol da inclusão de minorias nas produções culturais, como evidenciado pelo "Hollywood Diversity Report". Este relatório, publicado pela Universidade da Califórnia (UCLA), mostrou um aumento na diversidade, especialmente entre os filmes de streaming, até começar a regredir em 2024. No Brasil, a questão da diversidade também ganhou fôlego na última década, desafiando a percepção do país como naturalmente inclusivo. Entretanto, estudos do Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (Gemaa) mostram que a diversidade ainda está aquém do ideal. Publicidade e representações culturais continuam majoritariamente brancas, apesar do país ser uma nação miscigenada.
A diversidade na cultura, especialmente em Hollywood, está sendo reavaliada sob uma nova luz. O recente declínio na representatividade, conforme apontado pelo "Hollywood Diversity Report", levanta questões sobre a direção em que a indústria do entretenimento está se movendo. Redes sociais como TikTok registram um retorno a ideais mais conservadores, como valorizado pelas "tradwives" e o "Skinnytok". Hollywood, que historicamente dita tendências culturais globalmente, agora parece inclinar-se para um perfil mais conservador para não perder a audiência americana cada vez mais divisiva. No entanto, a realidade brasileira é distinta. Apesar das críticas ao "discurso woke", a diversidade aqui não experimentou um retrocesso significativo, embora o avanço também não seja exatamente notável. Os manifestos anti-woke, como o lançado por cineastas brasileiros, refletem parte dessa insatisfação.
A resistência à diversidade cultural não é uma novidade histórica. Depois de avanços sociais significativos, é comum surgir uma reação conservadora que tenta reverter as conquistas. Camila Camargo, do Observatório da Diversidade na Propaganda, destaca esse "backlash" como um período esperado após transformações sociais. No Brasil, apesar da resistência, sinais de retrocesso ainda não são claros. Entretanto, a diversidade não está progredindo como esperado, o que preocupa ativistas e profissionais da indústria. A cineasta Alice Leal ressalta que, embora a onda "anti-woke" exista, ela não é amplamente aceita por grande parte do público brasileiro, que ainda se mostra receptivo a representações diversificadas, embora com progresso limitado.
O impacto econômico da diversidade no setor cultural também é significativo, muitas vezes ignorado por aqueles que se opõem à representatividade "woke". Estudos demonstram que a inclusão de minorias pode ser um bom negócio. Por exemplo, o poder de compra da comunidade LGBTQ+ movimenta bilhões de reais no Brasil, demonstrando que há um interesse e uma demanda por produtos e conteúdos que reflitam suas identidades e experiências. Camila Camargo observa que, embora algumas marcas estejam mais cautelosas, as evidências mostram que a inclusão continua sendo uma estratégia lucrativa. Filmes como "Barbie" e "Homem com H" reafirmam essa tese. Ambos abordam temas inclusivos e continuam a atrair grandes audiências, provando que a procura por diversidade na tela não desapareceu.
O futuro da representatividade cultural ainda está em disputa, mas é claro que o atual clima conservador está colocando desafios significativos para os avanços sociais que marcaram a última década. No entanto, a realidade econômica e a demanda do público por maior inclusão nas representações sociais podem inverter essa tendência. Os mercados culturais e publicidade no Brasil e no mundo sentem o impacto dessa onda, mas muitos profissionais e marcas reconhecem a importância da diversidade como fator de lucratividade e progresso social. O cenário político e cultural continua em evolução, e há muitos capítulos por vir nessa história de luta por inclusão, que dificilmente será revertida enquanto houver consumidores ávidos por se enxergar nas histórias contadas.



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