Angela Maria Diniz Gonsalves, mais conhecida pelo nome artístico Angela Ro Ro, deixou uma marca indelével na música brasileira. Com uma vida cheia de intensidade e melodias que tocavam profundamente a alma de seus ouvintes, Angela morreu aos 75 anos em sua cidade natal, o Rio de Janeiro. No Hospital Silvestre, onde esteve internada desde julho devido a uma infecção pulmonar, Angela encerrou sua jornada nesta segunda-feira.
A vida e carreira de Angela Ro Ro foram pautadas pela emoção, característica que permeou tanto sua música quanto sua existência. Sua morte coincide com um momento especial na música brasileira, apenas dois dias após Maria Bethânia homenagear a artista em um show, interpretando "Gota de Sangue" e "Mares da Espanha". Essas canções fazem parte do legado que Angela deixou, destacando-se no movimento de fortalecimento da música feminina no Brasil desde 1979.
Nascida em 1949, Angela Ro Ro foi uma figura singular. Sua comparação com Maysa e Janis Joplin não era à toa. Com uma voz rouca que lhe deu o apelido de "Ro Ro", ela transcendeu barreiras, revelando ao mundo uma artista com forte tonalidade emocional. Marina Lima, em 1979, trouxe à tona a obra de Angela com a canção "Não há cabeça", com versos que encapsulavam a essência de sua criadora.
Angela era mais do que uma cantora; era uma compositora brilhante. Seu álbum de estreia "Angela Ro Ro" trouxe clássicos como "Amor, meu grande amor", "Balada da arrasada" e "Só nos resta viver", remanescentes de um tempo em que o blues, o rock e a bossa nova se fundiam harmoniosamente em sua música. Embora sua carreira enfrentasse altos e baixos, ela continuou a ser um ícone da música brasileira, admirada por seu talento vocal e composições profundas.
A vida de Angela Ro Ro era uma onda de emoções. Ela foi pioneira em se assumir lésbica publicamente, desafiando convenções sociais, deixando sempre claro em suas letras quem ela era e o que sentia. "Tola foi você" e "Gata, moleque, ninfa" são exemplos de sua autenticidade e coragem, trazendo à tona temas que muitas vezes eram varridos para debaixo do tapete.
O humor irreverente de Angela muitas vezes mascarava a dor que sentia. Diante da melancolia, ela se expressava com uma musicalidade excepcional, misturando diversos estilos em suas canções. Ao longo de sua vida, ela não hesitou em se expor, trazendo beleza para os altos e baixos da jornada humana. Era comum vê-la traduzir a dor em alegria e vice-versa, um reflexo da intensa paixão que nutria pela música.
A notícia de seu falecimento gerou uma onda de comoção nas redes sociais, onde inúmeras homenagens surgiram. Amigos, fãs e colegas, todos lamentam a perda, mas também celebram a vida e a obra de Angela Ro Ro, que permanece viva através de sua música e do exemplo que ela deixou para as futuras gerações.
Angela Ro Ro, a compositora de "Amor, meu grande amor", talvez nunca tivesse planejado prolongar sua carreira musical, mas sua influência estendeu-se por décadas. Tocando gaita na gravação de Caetano Veloso, "Nostalgia", indicava o quão multifacetada era sua arte. Seu repertório, composto de blues, rock, e música popular brasileira, continua a encantar e inspirar novos talentos.
O legado de Angela não se evidencia apenas na música, mas também em sua postura artística genuína, cheia de rachaduras, mas profundamente humana e verídica. Sua obra atravessa o tempo, provando que a arte é eterna, imune ao desgaste do tempo e das barreiras físico-temporais.
Agora, com sua partida, resta-nos reviver sua música e história, lembrando-se de superar nossas adversidades com a mesma paixão e intensidade que Angela Ro Ro demonstrou em sua vivência. Um brinde à memória de Angela Ro Ro, cuja música continuará a ressoar, celebrando uma vida que, apesar de errante, foi vivida de forma extraordinária.



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