A história da mítica banda de rock psicodélico Ave Sangria é ressuscitada em um documentário cativante que compõe o In-Edit Brasil, festival de documentários musicais em São Paulo até 22 de junho. Sob a direção de João Cintra e Mônica Lapa, 'Ave Sangria – A banda que não acabou' leva o público em uma viagem no tempo pelas estradas de Pernambuco, conduzida por Roger de Renor em uma icônica Rural Willys. Almir de Oliveira e Marco Polo Guimarães, os dois únicos membros originais restantes, compartilham emocionantes relatos que delineiam a jornada de uma das bandas precursoras do rock psicodélico no Brasil, desde seus primórdios em 1972.
O documentário abraça um formato de road movie documental, onde entrelaça o charme das ilustrações e animações de DJ Dolores para enriquecer a narrativa. Embora o ritmo seja propositalmente lento, convida o espectador a mergulhar na riqueza histórica e na essência musical da banda. Vale destacar que Ave Sangria, anteriormente conhecida como Tamarineira Village, foi formada durante um período de intensa efervescência cultural e política em Recife. Sua primeira apresentação aconteceu na I Feira Experimental de Música de Nova Jerusalém, vista como o 'Woodstock' nordestino.
A partir de 1974, já rebatizada como Ave Sangria, a banda lançou seu primeiro álbum, um marco libertário que mesclava rock, baião, blues e maracatu, se destacando especialmente com a faixa 'Seu Waldir', que conseguiu furar o bloqueio geográfico do universo psicodélico. A musicalidade e a performance da banda, inicialmente integrando Marco Polo (voz), Ivson Wanderley – o Ivinho (guitarra), Paulo Rafael (guitarra, sintetizador, violão e vocal), Almir de Oliveira (baixo), Israel Semente (bateria) e Agrício Noya (percussão), não foram reproduzidas em gravações futuras, mas deixaram um legado duradouro que influenciou nomes como Chico Science e Nação Zumbi.
Após um hiato, a banda se reformou em 2014 para celebrar os 40 anos do lançamento do álbum 'Ave Sangria' e lançou um segundo álbum, 'Vendavais', em 2019. O documentário termina de forma intrigante, revelando que a enigmática figura de 'Seu Waldir' estava mais presente na história da banda do que se imaginava. Durante o percurso narrativo, são reveladas histórias marcantes, incluindo o impacto das perdas de Ivinho, Agrício Noya e Israel Semente, que, segundo os depoimentos no filme, passaram por um processo de autodestruição com o uso de drogas e álcool após saírem da banda.
'Ave Sangria – A banda que não acabou' não apenas comemora o legado da banda, mas também oferece um retrato preciso da cena musical de Recife nos anos 70, sem exageros ou superlativos. Para entusiastas da música psicodélica e da história rica do rock brasileiro, assistir a este documentário é uma oportunidade imperdível de se conectar com um capítulo vibrante da cultura nacional.
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